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"Ficar no coração não é fácil.
Pois é no coração que entramos em acordo com a experiência que estamos vivendo.
Quando o coração está aberto, a experiência é bem recebida. Nós a aceitamos e
permitimos que seja integrada com a nossa alma. Quando o coração está fechado,
rejeitamos a experiência. Nós nos defendemos contra a decepção ou contra a
mágoa e fugimos para a cabeça.
Quando a experiência passa a ser intelectualizada somos roubados não só do que é inferior, mas também do sublime na vida emocional. Perdemos a capacidade de sentir compaixão por nós mesmos e pelos outros. Perdemos a sensibilidade não somente para a dor e para o sofrimento, mas também para a beleza e para a felicidade.
Quando nosso coração está verdadeiramente aberto,
tanto a felicidade quanto a dor são experimentadas sem inventar estórias, sem
pintar a realidade de cor de rosa. Elas não significam nada diferente do que
realmente são. Sentir dor não significa que somos maus, nem que outros sejam maus,
assim como sentir felicidade não quer dizer que somos bons. Não há
interpretações, só há disposição e boa vontade para aceitar e receber a
experiência lá dentro. No coração aberto, o riso e as lágrimas se mesclam. É um
lugar de intensa contradição, um lugar rico, um banquete variado de
experiências que não podem ser racionalizadas, domadas, antecipadas, nem
entendidas.
O medo e o condicionamento
nos encorajam a rejeitar os aspectos da experiência que sejam novos,
inesperados ou que não nos pareçam seguros. A alma fica dividida quando uma
parte da experiência passa a ser vista como inaceitável. Passamos a ter bom e
ruim, inconsciente e consciente, desejado e não desejado. Dessa forma somos
capazes de ter uma experiência sem senti-la. Podemos fugir para a cabeça, nos
distanciar, nos desconectar emocionalmente. Ainda que este tipo de dissociação
seja compreensível quando se trata de uma reação a eventos traumáticos, ele
passa a ser disfuncional em resposta aos altos e baixos da vida diária.
Quando só estamos dispostos a aceitar o que nos é
familiar ou aquilo que pensamos que queremos, ficamos presos na rotina e nos
padrões do nosso passado. Ficamos estagnados emocionalmente e intelectualmente.
Ficamos rígidos, ego-centrados e previsíveis. A energia da vida passa a ser
investida na manutenção das defesas do ego, garantindo que o status quo
permaneça intacto.
Viver no coração significa
deixar que tudo entre. Significa estar com a experiência, mesmo que ela seja
difícil ou confusa. Para estar no coração, temos que adiar a tomada de decisões
com frequência, até que fiquemos completamente familiarizados com o conteúdo
total da nossa consciência.
Ficar no coração ajuda-nos
a assimilar os caprichos de nossa experiência, ainda que isso leve algum tempo
para acontecer. Quando não temos pressa, percebemos que as contradições
iniciais acabam se resolvendo sozinhas. Tudo vai ficando mais claro conforme
vamos honrando os variados pensamentos e sentimentos da nossa alma. É uma
função da nossa inteireza, quando sentida.
Tomar decisões antes de
ter passado algum tempo com todos os nossos pensamentos e sentimentos
contraditórios, acaba agravando qualquer que seja o conflito que estejamos
experimentando em nossa vida externa. Quando sentimos urgência ou pressão para
solucionar ou decidir alguma coisa, geralmente isso significa que estamos
fugindo para a cabeça, tentando fazer com que “alguma coisa aconteça” que ainda
não está pronta para acontecer. E, inevitavelmente, isso conduz a conflitos
externos e a decepções. As portas não se abrem, não importa com que frequência
ou com que força possamos bater nelas. Como não estamos em harmonia interna,
não conseguimos ficar em harmonia com os outros. Como não estamos em nosso
próprio “fluxo”, não conseguimos fluir com a vida conforme ela vai se
manifestando ao nosso redor.
É preciso ter coragem para estar presente na paisagem
emocional interna quando a chuva e a neblina obscurecem a vista. Quando a
visibilidade é mínima, tudo o que podemos fazer é colocar um pé na frente do
outro. Quando um monte de conflitos e emoções se agitam na alma, tudo o que
podemos fazer é trazer gentilmente a consciência para onde estamos. Se nos
apressarmos no meio da chuva e da neblina, desviaremos do caminho e cairemos.
Um acidente vai nos atrasar muito mais de alcançar nosso objetivo do que o mau
tempo e, daí, vamos desejar ter sido mais pacientes.
Ser paciente conosco mesmos e com o nosso próprio processo é o segredo de viver
no coração. Podemos estar no coração e não "saber" o resultado de uma
situação. Na verdade, a disposição “para estar sem saber” é essencial para
estar presente aqui e agora, seja o que for que estivermos experimentando.
“Saber” quase sempre diz respeito ao passado. Quando não precisamos mais saber,
podemos ficar neste momento".
<3