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A tal sustentabilidade

Escrevi esse texto há algum tempo com a colaboração da querida Christina Testa Marques, minha coordenadora e colega na ESAMC UDI. Foi publicado em uma revista local e resolvi compartilhar por aqui também. ;)

É comum ouvir: “porque eles permitem a poluição desenfreada? Isso é um absurdo”; “porque eles não resolvem logo a questão do lixo?”. Eles... Que eles? Quem são essas pessoas poderosas o suficiente para salvar o planeta de uma catástrofe ambiental e nada fazem?

É muito interessante a forma como as pessoas excluem a própria responsabilidade sobre a solução dos problemas que são genéricos e difíceis de resolver. É obvio que existem aqueles que têm maior poder de decisão, mas, em termos de sustentabilidade, convenhamos, estamos todos no “mesmo barco”: quem pode mais, depende muito de quem pode menos e vice versa.


Sustentabilidade
O discurso do consumo consciente não foge à regra: “consumam de forma consciente, suas escolhas de compra são importantes para preservar o planeta”, e por aí vai. Muito válido, sem dúvidas, afinal, o primeiro passo é gerar consciência e, seguindo esse ritmo, vários trabalhos de responsabilidade social empresarial são voltados a esse fim: levar as pessoas a saber que a ausência de cuidado com o planeta é letal e que elas são as responsáveis por isso.

Dá certo. No Brasil, segundo pesquisa do Instituto Akatu, referência no assunto, 33% dos consumidores brasileiros são conscientes - têm um bom grau de percepção dos impactos coletivos ou de longo prazo em suas decisões de consumo e não se atêm aos aspectos econômicos ou aos benefícios pessoais imediatos. Porém, consciência não significa ação e, embora o resultado da percepção dos brasileiros em relação ao consumo consciente seja positivo, é também uma realidade que a classe média do país encantada com as novas possibilidades de consumo esteja ávida por utilizar o poder de compra recém-adquirido e que, portanto, não surte muito efeito falar em sustentabilidade quando o que essa faixa da população quer é mobiliar a casa, comprar um novo carro ou fazer uma viagem com a família.

A discussão, o trabalho de conscientização e demais iniciativas nesse sentido continuam sendo fundamentais para começar uma mudança efetiva. Ainda assim, fica clara a necessidade de buscarmos alternativas mais palpáveis para solucionar a questão.

Nesse sentido, os profissionais de marketing têm oportunidade (pra não dizer obrigação) de realizar um bom trabalho. Focados no atendimento às necessidades dos clientes, ao ajuste entre a demanda e a oferta de forma a atender tanto ao mercado quanto às empresas, agora têm um novo desafio, lidar com uma necessidade que pertence a todos os segmentos: sobreviver; aprender a consumir corretamente e assumir a responsabilidade pelo resultado desse consumo. E, como se trata de uma via de mão dupla, para existir consumo consciente, é preciso haver produção consciente, venda consciente, distribuição consciente e, claro, comunicação consciente.

Voltemos então ao primeiro parágrafo deste texto, quando questionamos a indagação em terceira pessoa quando se trata de cuidado com o planeta em que vivemos. O “Eles” somos “nós”. Até aí é fácil compreender. Mas o que nós, profissionais de marketing e comunicação estamos fazendo dentro das empresas para viabilizar essa realidade sustentável? Os conceitos e ferramentas que utilizamos atualmente são necessários para assumir uma postura sustentável nos negócios? Nós somos capazes de lidar com um consumidor consciente que não compra, ou não comprará, em grande parte por impulso? Nós estamos preparados para educar esse consumidor e quem sabe, usar tantos conhecimentos e, por que não dizer, talentos criativos para ajudar a salvar esse planeta? Vamos adotar o “nós” ou continuar usando “Eles”?

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