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A domadora de desafios


Você já teve que domar um leão por dia? Você já teve que crescer para ficar do tamanho dos seus desafios? Não soube de onde eles vieram, não soube como lidar, mas precisou enfrentar mesmo assim? Você já teve medo de não conseguir e ainda assim se mostrou forte e pronta (o) para a batalha?

Essa aí é a Domadora, minha personagem de teatro no primeiro dia do 15° Raízes – os sonhos que habitam a cabeça de um palhaço (um encontro espiritualista do qual faço parte). Forte, destemida, pronta para olhar de frente para os leões de cada dia. Mas, como qualquer guerreira, com um coração que precisa de todo cuidado para permanecer firme diante da vida. 

Sabe aqueles momentos que a gente pensa em não atender o telefone, porque são tantos desafios que dá medo só de olhar? Aqueles momentos que as pessoas olham e dizem: “ah, nem é tanto assim”, enquanto o seu coração está miudinho? Quando você já não aguenta mais, mas ainda aprece um leão para domar? Pois é, essa moça aí sabe bem o que é isso. E o que ela disse para a menina perdida na cabeça do palhaço? Para agir com o coração. Esse mesmo aí, que é frágil e por isso pode permanecer aberto.

Não é a fragilidade que nos afasta da força, mas o medo de sermos vulneráveis. O medo de demonstrar que dói sim, que não sabemos como agir, que não crescemos o suficiente ainda diante disso que apareceu. E às vezes o que aparece é tão menor do que o nosso medo, mas nós só sabemos disso quando olhamos, quando acontece, quando enfrentamos. Um belo paradoxo: na vulnerabilidade está a força.

Belo depois que passa né? Porque enquanto estamos vivendo é bem dolorido. 

Ela sabe, passou a vida toda domando leões. Ela é fã dos super-heróis e guarda dentro de si um bom humor que não pôde mostrar por muito tempo. Ela confia em si, nos seus valores para guiar os passos. Aprendeu depois de muito duvidar do próprio coração. Ela aprendeu a prestar atenção no caminho e que nem todos os sorrisos são de amigos. Ela sabe que é frágil também e que precisa de tempo para se recuperar. Sabe que precisa se preparar para não se colocar em riscos desnecessários. Sabe que muitas vezes luta de coração partido, mas com boa vontade para vencer mais um desafio. 

Ela veio para mostrar que domar e crescer não mudam a essência, só a fazem amadurecer, e que acreditar no seu coração é o único caminho que vai levá-la para uma vida com sentido. Ela sabe. Eu também sei. 

Obrigada Domadora, que bom que você chegou para mostrar o que já estava pronto em mim. E um obrigada especial para a Ana Victória Pimentel. Escritora, atriz e diretora de teatro que criou essa personagem para a minha estréia nos palcos do Raízes. Gratidão eterna. <3

Almas Simples

Para Guillermo.

Soluções são simples. Para quem já tem a alma simples.
Não confunda simples com rasa. Almas simples são profundas, porque nelas cabem todas as versões de si mesmas. São simples, porque compreendem que a complexidade não é para ser dominada, mas sim experimentada.

Almas simples brincam, porque aprenderam a desfrutar. E porque aprenderam a desfrutar suportam a difícil tarefa de receber em abundância, sem culpa, com graça.
Elas são generosas, entregam de si, para que outras almas possam experimentar um pouco mais de leveza quando percebem suas geometrias dolorosas.

Almas simples se conectam. Sabem que a cura está no exato momento em que o encontro acontece. E porque os encontros acontecem, elas podem ser vistas, assim, simples como são.
E por poderem ser o que são, podem também se entregar a um propósito maior que si mesmas. Elas sabem que seu lugar é precioso demais para não ser completamente ocupado. Então, elas simplesmente ocupam seus lugares e servem a vida.

Almas simples olham para o que se apresenta e apenas olham. Não sobra espaço para julgar quando se ocupam de apenas estar.
Elas são corajosas. Tiveram a coragem de pagar o preço de pisar no desconhecido, só para entender que, em grande parte das vezes, a solução não tem a ver com o problema e sim com a habilidade de construir um novo modo de olhar.

Almas simples fazem o que precisa ser feito, mesmo que não saibam exatamente o caminho, elas são capazes de dar o primeiro passo. Sabem que sua tarefa mil anos precisa ser iniciada, sabem que cabe a elas essa tarefa.

Almas simples não precisam ser traduzidas, pois se expressam através da liberdade. E é preciso sabedoria, para ter consciência de que é a simplicidade que liberta.


Escrevi esse texto para o meu professor Guillermo Echegaray Inda. Um ser humano incrível que durante os 10 dias de formação em Constelações Estruturais ensinou o que é ter a alma simples. Junto com essa turma maravilhosa, vivi dias de uma grande transformação. Esse texto surgiu em um dos dias do curso, quando meu coração pedia por um modo de demostrar gratidão. Guillermo, além de um profissional incrível, foi extremamente generoso ao disponibilizar tempo para trabalhar comigo diversos aspectos nos quais eu precisava amadurecer. Gratidão para sempre querido professor! <3

Constelações Estruturais

Movimente o seu Propósito

É em movimento que seguimos a jornada da vida. Um passo após um outro. Uma pausa após a outra. Cadência, ritmo, movimento. Cada um tem o seu. Todos participam a seu modo.

É em movimento que novas perguntas nos encontram. Algo precisa se mover para que o novo possa aparecer, nos confundir, nos surpreender, nos fazer crescer ou, pelo menos, ansiar por isso.

É em movimento que nos encontramos com Deus e criamos na realidade. A natureza nunca para, está sempre em movimento, mesmo que em silêncio. Participar desse movimento de vida é uma escolha, é preciso dar o primeiro passo para que o caminho se apresente.

Muitas pessoas conversam comigo sobre encontrarem seus propósitos de vida, sobre seus negócios e como gostariam de eles estivessem realizando algo grandioso. Mas a maioria espera que esse propósito seja uma iluminação, algo que de repente se manifesta como um belo slogan para ser comunicado. Estão focadas no que fazer da vida e esquecem de o porquê fazer na vida. Quanto mais isso acontece, mais se comparam com outras pessoas e como a vida do vizinho parece ser tão bem resolvida. Uma comparação que magoa e as faz sentir sempre insuficientes não importa o que tenham conquistado.

Algo grandioso só pode acontecer quando nasce da verdade. A integridade dá a base para aquilo que é feito. Precisa ser genuíno para ser sustentado. Esse é o desafio. Encontrar o seu propósito passa pela honestidade, pela coragem de olhar para o que é real e só tem um caminho: o coração. Ele nunca mente, mas compreender essa linguagem pode ser assustador à princípio.

Por isso o movimento, um passo por vez. Quando decidimos trabalhar com o propósito em nossas vidas, criamos um movimento para isso e a partir dele, teremos momentos de alegria e conexão e ao mesmo tempo, vamos encontrar com as incoerências escolhidas que nos afastaram do movimento original. Movimento da alma e em seguida, movimento do corpo.

Movimento é diferente de velocidade e força. Muitas vezes é parado, mas ativo. Constante, mas suave. É um impulso da alma que pode nos fazer simplesmente parar, mas paramos com sentido e por isso, o movimento pode ser de espera. Pode ser apenas interno e temos ciência disso. Permanecemos à espera do que precisa ficar pronto, do caminho que se formará para o próximo passo.

Até que seja possível corrigir o passo para o que realmente faz sentido em nossas vidas, vamos ter que lidar com aquilo que normalmente é confortável, mas nos tira o prazer de viver sendo quem somos.

Comigo aconteceu assim também.

Comecei a dançar no dia do meu aniversário de 12 anos. Um dia muito feliz. Minha madrinha me via fazendo espetáculos de dança para os vizinhos e resolveu me dar a matrícula de presente. Primeiro o jazz e anos depois, estava eu na companhia profissional dançando moderno, balé clássico, jazz e dando aulas na academia. A dança sempre esteve presente, mesmo antes de oficialmente ser bailarina. Sempre que lembro de mim, lembro da dança.

www.tatianaparreira.com.br


Aos 17 anos descobri uma doença que me fez desistir da carreira profissional na dança. Um tumor. Benigno, mas que interferia no metabolismo do meu corpo. Enquanto fazia o tratamento, fui para a faculdade de comunicação. A ideia era ter uma profissão que me mantivesse em movimento. A publicidade engloba tudo isso em eventos, criação, interação com o público... é um vai para lá e vem para cá sem fim!

Anos depois, mantendo a dança em segundo plano e com um escritório de consultoria sistêmica montado, me deparei com o desafio de explicar o que exatamente uma publicitária que também é terapeuta sistêmica faz. E num trabalho longo de planejamento o obvio veio à tona: movimentar. Esse sempre foi o meu propósito de vida, mas não tinha ainda sido definido em palavras para que eu pudesse compartilhar com as pessoas ao meu redor. Assumir isso (sou dançarina e sempre vou ser independente do que estiver fazendo na vida) fez toda a diferença.

O resultado foi esse aqui:


O movimento faz tanto sentido para mim que a vida se manifesta assim, só consigo compreender algo quando há um movimento. E aí está a minha maior habilidade: me movimentando estimulo os outros a se movimentarem também. Pode ser no palco, em projetos, em sala de aula, onde eu estiver, em qualquer coisa que eu faça. Agora eu sei.

Continuo com uma vida comum, trabalhando, estudando, pagando contas, limpando a casa, essas coisas que do dia-a-dia que todos vivemos. Mas sei quem sou e assumir isso, mudou tudo.

Por isso, para você que está se perguntando qual é o seu propósito, se pergunte antes: o que me move? O que sempre me faz sair do lugar e avançar na vida? Movimente o seu propósito. É assim que você se encontrará com ele, consigo mesmo e poderá de algum modo entregar isso ao mundo. Como bem disse Carpinejar, é “dançar com a música de dentro”.

<3